sexta-feira, 21 de outubro de 2016

> depois


Quando preparo uma exposição, desde as primeiras ideias à materialização das obras, o processo acontece de uma golfada; é um período denso de tempo, uma fase torrencial e ininterrupta. Por fim, quando se atingem os propósitos e se cumpre o plano traçado, parece acontecer um esvaziamento, um cerco à capacidade criadora instala-se e dura. 

Nesse momento estou quite comigo, com o mundo, com a galeria onde irá acontecer a exposição dos trabalhos, onde eles começarão uma nova vida. 

Neste tempo de natural descompressão revê-se e revisita-se o trabalho feito; agora com tempo, devagar, se possível de fora. Dá quase sempre vontade de voltar, corrigir aquela linha, tentar outra mancha... 
É então que se volta! 
Já sem o peso da tarefa, a pressa dos calendários, atiro-me a uma tela nova, armado de tintas e pincéis, vontades e ideias revistas. Nasce aquele que já não era esperado, o filho tardio. E como com os filhos tardios, o trato tem outro cuidado, mais calmo e sapiente, mais experimentado. Nasce com o carinho parental e os mimos fraternos a amparar as hesitações. Resume, condensa e resolve todos os defeitos, todas as virtudes da série, porta consigo a soltura do descompromisso. E isso, por entre o ciúme dos outros, faz dele o mais garboso e ousado, o mais mimado da prole. 

Por indisfarçável inveja, chamam-lhe o “extra-catálogo”.